Vivemos um tempo supreendente, de incerteza e risco, um tempo que tanto pressentimos como fim, como saboreamos como princípio e abertura, um tempo de transição e de renovação cultural. É no âmago deste tempo, em que tacteamos à procura de um modelo de desenvolvimento social de rosto humano, sustentado no respeito pela dignidade do ser humano e na procura do bem comum, que criámos esta Revista Interdisciplinar sobre o Desenvolvimento Humano.


Este tempo ou é o tempo do encontro ou não haverá mais tempo humanamente digno.

A pessoa, cada pessoa, todas as pessoas e a pessoa toda, tal é o objecto de estudo desta Revista. Um objecto feito de sujeitos, únicos, irrepetíveis e detentores de uma inalienável dignidade. A revelação do tesouro escondido em cada ser humano e a celebração do encontro entre todos os seres humanos, feito de múltiplos desencontros e reencontros, tal será o pano de fundo sobre o qual andaremos, com todo o cuidado que este novo andar implica.

Calcorreamos um tempo fragmentado, em que estamos separados por culturas, etnias, grupos e geografias e escandalosamente divididos por desigualdades sociais, aparentemente insanáveis. Dizemo-nos uma aldeia global e mais parecemos um somatório de condomínios privados e bairros sociais. O encontro no espaço público e a criação de um valor público ao serviço de todos os membros da comunidade, serão o ponto de partida para cruzamentos de fronteiras, para tecer novas proximidades e também para encetar compromissos comuns.

É o encontro que des-oculta, é o outro que me des-envolve, é o encontro com o outro que reacende a luz lá onde ela parecia estar definitivamente a apagar-se. A graça de uma vida em comum, na polis, radica no encontro entre liberdades e autenticidades. Somos seres-setas destinados ao outro, aprendemos que a plenitude é uma compossibilidade, sobretudo quando escutamos o outro que, já sem voz, mais clama. Num tempo cheio de ruído, aqui estamos num espaço de silencioso encontro, longe-perto do frenesim e da vertigem que nos assolam quotidianamente.

Concorremos, com o saber disciplinar para novos saberes disciplinares e multidisciplinares, para novas desocultações que nos devolvam a beleza da inteireza humana. Da filosofia às artes, da economia à física, da teologia ao direito, da sociologia à química, da ciências médicas à pedagogia, da biologia à ética, do desporto à literatura, os campos do saber fecham-se e abrem-se, num movimento de encontro que, aqui, neste espaço queremos manter sempre em aberto.


A versão electrónica da RIDH permite, sem custos excessivos, uma ampla divulgação dos textos, por toda a Terra, nas mais variadas línguas deste nosso comunicar, ele mesmo um terceiro lugar. Este é o tempo e o espaço destes lugares.

Agradeço à Fundação Manuel Leão o seu apoio à nova Revista. Agradeço também a todas e a todos os autores o seu contributo para este número inaugural, ainda muito longe da interdisciplinaridade desejada, mas decididamente a caminho dela.

in Editorial / Joaquim Azevedo